Em suas mãos está não apenas o titulo de chefe de estado da Grã-Bretanha, mas também a missão de manter a tradição e a pompa que são a marca da família real do país. E a rainha Elizabeth II tem, mais uma vez, a chance de comover e cativar seus súditos – e o restante do planeta – com uma suntuosa cerimônia: a do casamento de seu neto, o príncipe William, com Kate Middleton. Mesmerizar o mundo com o encanto das tradições reais é uma das marcas registradas desta rainha, que conseguiu atingir o mais longevo reinado da Grã-Bretanha justamente em tempos em que a própria sobrevivência de um arcaísmo como a monarquia já é um espanto.
“Uma rainha que não gesticula. Está sempre com os dedos entrelaçados sobre o colo ou com as mãos espalmadas junto ao corpo. Protocolo para ela é uma coisa tão natural, que nunca se preocupou com ele”. Assim VEJA descreveu, em novembro de 1968, a rainha Elizabeth II, da Inglaterra. Na ocasião, a monarca acabara de fazer uma visita de dez dias ao Brasil. Os dias de realeza no país causaram verdadeiro furor na sociedade brasileira. Nos morros cariocas, as pessoas saíram às janelas para acenar durante a passagem da comitiva de Elizabeth II, integrada também por seu marido, o príncipe Phillip.
Elizabeth II assumiu o trono britânico em fevereiro de 1952, após a morte do pai. E já o fez em grande estilo. No pouco mais de um ano até o muito esperado espetáculo de sua inédita coroação diante das câmeras, o número de casas com aparelhos de TV no país saltou de 750.000 para mais de 2 milhões. A rainha tem garantido desde então a manutenção de uma monarquia que, de tão faustosa e ritualística, difere até mesmo dos regimes congêneres da Europa continental, mais discretos.
É espantoso que essa tarefa tenha sido desempenhada durante um período de enormes transformações por Elizabeth, uma mulher sem grande visão histórica nem acuidade política. Segundo interpretações dos especialistas, ela teve a seu favor três fatores: o senso do dever, qualidade apreciadíssima pelos ingleses, a capacidade de se adaptar às mudanças sem dar a impressão de aderir a modismos e o talento natural, lapidado por seus assessores, para embrulhar uma família sem beleza (pelo menos até o furacão Diana e seus rebentos), sem carisma e sem graça em uma irresistível embalagem de pompa, tradição e reverência que nunca falha em cativar os súditos.
Mas nem sempre a relação da rainha com os ingleses foi tranquila. A morte da princesa Diana, em 1997, expôs sua total incapacidade de aceitar a popularidade da ex-nora e de entender como, na morte trágica porém constrangedora, com um motorista bêbado e um namorado vulgar, essa paixão popular se exacerbou. Pela primeira vez em décadas de reinado, bateu de frente com seus súditos. E de forma tão crítica que, em questão de dias, o país estava mergulhado numa crise institucional. Elizabeth teve, então, de ceder. E deu à princesa um sepultamento digno de uma Alteza Real, título que Diana havia perdido com a separação. Escândalos que sucederam a morte da princesa trouxeram à tona, em 2002, o fantasma da abdicação – chegou-se a cogitar que Elizabeth cederia o trono ao filho Charles. A rainha, porém, contornou a situação.
A histórica habilidade para se adaptar aos novos tempos é a marca registrada da monarquia inglesa e o segredo de sua longevidade. Outras dinastias europeias poderosas na entrada do século — como os Romanov da Rússia e os Hohenzollern da Alemanha — se apegaram demais a privilégios anacrônicos e foram varridas da História. Elizabeth II já tomou decisões inovadoras nos últimos dez anos: passou a pagar imposto de renda e podou as verbas públicas para a parentela real. Sem poder político, com a credibilidade abalada, ela resolveu se desfazer de alguns anéis para salvar a Coroa.
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